De acordo com o médico e terapeuta João Borzino, estudos indicam que um elogio dura cerca de 30 dias na memória — já uma ofensa pode nos assombrar por 20 anos
Você já deve ter passado por isso: alguém te elogia e, dias depois, você mal se lembra. Mas quando alguém te ofende, a frase volta e meia aparece na sua mente — às vezes anos depois. Coincidência? Nada disso. A ciência tem uma explicação.
“Estudos recentes apontam que elogios tendem a permanecer ativos na nossa memória por até um mês. Já uma ofensa pode nos acompanhar por décadas. Isso não é só psicológico — é biológico, antropológico e social. O nome disso é viés da negatividade”, esclarece o médico e terapeuta João Borzino.
O médico afirma que nosso cérebro dá mais atenção ao que ameaça. “Do ponto de vista evolutivo, essa tendência faz sentido. Nossos antepassados precisavam estar atentos a qualquer sinal de perigo: um predador, um inimigo, um som estranho na floresta. Quem ignorava ameaças, morria. Quem prestava atenção a tudo de ruim, sobrevivia”
João Borzino destaca que é por isso que o cérebro humano reage com mais intensidade ao que ameaça do que ao que conforta. “Imagens negativas ativam regiões cerebrais mais profundas e intensas do que imagens positivas. Uma crítica gera mais impacto emocional do que um elogio — mesmo que ambos venham da mesma pessoa”.
Psicólogos chamam isso de negativity bias, teoria diz que eventos negativos têm um peso emocional maior que eventos positivos. Segundo Borzino, um único comentário cruel pode causar mais impacto do que dez elogios sinceros.
“E tem mais: estudos mostram que, socialmente, uma atitude ruim se espalha até 9 vezes mais do que uma boa. Seja nas redes sociais, em rodas de conversa ou no noticiário, o que é ruim sempre chama mais atenção”, afirma.
Fofoca, desgraça e tragédia: por que isso prende a gente?
Você já reparou que o trânsito para quando acontece um acidente? Todo mundo quer ver o que aconteceu, tirar uma foto, comentar. Mas se um pequeno animal tenta atravessar a rodovia, ninguém para para ajudá-lo. O médico e terapeuta diz explicação é simples: o ser humano tem fascínio pelo caos.
“Fofocas, escândalos, brigas, acidentes e tragédias geram mais interesse do que boas notícias. Essa tendência está ligada ao nosso instinto de sobrevivência: aprender com o erro dos outros, identificar inimigos, se proteger. Hoje, isso se traduz em curtidas, comentários e compartilhamentos”.
Mas como lidar com isso? Saber que o nosso cérebro é assim pode ajudar a lidar com os efeitos das ofensas. João Borzino listou algumas estratégias simples:
Filtre o que você consome: evite mergulhar em notícias ruins o tempo todo.
Valorize os elogios: anote, releia, lembre deles.
Questione críticas: nem toda ofensa fala sobre você — muitas vezes diz mais sobre o outro.
Converse sobre o que te afeta: guardar sentimentos ruins só aumenta o peso deles.
“Lembrar mais da ofensa do que do elogio não significa que você é sensível demais. Significa que você é humano. Nosso cérebro foi moldado para reagir ao que machuca — e não ao que conforta. Entender isso é o primeiro passo para não se deixar dominar por aquilo que nos fere”, finaliza.
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